quinta-feira, 10 de março de 2016

Gente que mora dentro da gente - parte 2

Continuando a postagem anterior, estendo o convite de mergulhar mais um pouco para dentro de você, através da leitura de "A Travessia".

Neste livro Anthony Spencer faz uma viagem: a travessia para dentro de si! Ele era um homem que não carecia de bens materiais, riqueza e poder, pelo contrário: esbanjava-os. Mas o preço dessas conquistas efêmeras foi tornar-se um ser insensível, egocêntrico, sozinho e vazio.

É quando a vida se encarrega de transformá-lo, antes que faça 'a travessia' para o lado de lá: vestida de morte, ele recebe sua sentença num momento em que ele não tempo de cuidar da saúde, muito menos de usufruir da sua riqueza; vítima de um derrame cerebral que o leva ao coma, ele vai despertar dentro de si num universo irreal, num cenário assustador, mas é o cenário que retrata o que cultivou em seu próprio íntimo.

Nesta 'viagem' conhece os dois únicos moradores desse lugar: um homem misterioso que atende por Jesus, e uma idosa que diz ser o Espírito Santo - ambos amorosamente colaboram para que ele se reconheça. Petrificado de tanta dor com o que enxerga, suplica ao Criador uma oportunidade de consertar sua vida, e sendo atendido, retorna ao planeta Terra, mas dessa vez dentro de olhos alheios! E 'habitando' cada momento um corpo diferente, ele passa a enxergar a vida de outra forma, compreendendo assim outros pontos de vista. 

Será na relação afetiva com  esses outros personagens que ele analisa sua existência e desperta para a verdade, reconhecendo que renunciou à convivência com todos e a tudo o que é mais sagrado, em prol das velhas ilusões. É quando a verdade o faz querer se redimir, tanto para ajudar as pessoas que ama, quanto as novas que aprendeu a amar!

Dessa forma o autor permiti que mergulhemos junto, mas para dentro de nós. Quem aqui tem coragem de encarar sua própria verdade? Não há como ignorar que somos os únicos responsáveis pelas nossas vidas e nossos problemas! Será quando reconhecermos que não existe outros culpados, que assumimos que tudo o que vivemos são as sequelas dos caminhos que escolhemos, porém, o lado bom de aceitar tanta coisa a contra-gosto, é saber que enquanto houver vida, sempre haverá a oportunidade de recomeçar!

Eu sei que todos somos atarefados demais para pararmos e fazermos essa reflexão; nos empenhamos tanto na busca pelo êxito material que não atentamos aos raros momentos com os outros, mas principalmente, aos raros momentos conosco. Se perguntarmos sobre momentos felizes, não há quem não remeta à inocência e às brincadeiras da infância, e se pararmos para pensar naquela época, precisávamos de dinheiro para sermos felizes?

Esta é uma linda história que irá tocar o coração de quem lê, levando a refletir que nosso livre-arbítrio não atinge somente nós, mas igualmente as pessoas ao nosso redor, afinal, somos todos um não é mesmo? Então não perca a oportunidade de se dar essa espiadinha! 

E falando em espiadinha...ahhh, os olhos. Eu não consigo explicar a mistura de emoções e encanto que sinto nessa breve eternidade de olho no olho. Dizem que eles são as janelas da alma, e eu diria mais: que são também as vitrines do coração, que ao contrário da boca, não desmenti sentimentos. Então permita-se olhar por esta janela, mas primeiro para si, e reconheça-se como a criação mais perfeita que seu criador poderia criar e moldar! 

Apesar deste livro ser do mesmo autor de A Cabana, ele não é uma sequência dela, mas como ela, também aposta na idéia de combater a distância que se estabeleceu entre o Homem e Deus, e eu diria mais - em outras palavras - entre Nós e Nós Mesmos, afinal, a maior religiosidade é sermos sinceros conosco, é reconhecer o sagrado presente em tudo e em todos, nos incentivando a explorar o potencial humano, a dar nosso melhor, e a amar as pessoas como elas são, ou seja, com suas limitações.

Difícil? Mas ninguém disse que seria fácil! 

Eu ainda acredito na possibilidade de todos despertarem seu melhor... e você?